Projeto REDD+ Resex Rio Preto Jacundá: Relato de um comunitário extrativista local

As Reservas Extrativistas surgiram como solução para vários problemas ambientais. Suas origens estão nas comunidades de seringueiros que assumiram, no ambiente amazônico, durante as décadas de 70 e 80, o papel de soldados da floresta. Entendemos que o objetivo da criação das Reservas Extrativistas era de garantir a manutenção da população tradicional no seu modo de vida baseado no extrativismo dos recursos naturais, além de aproveitar a ocupação dessas áreas para garantir a proteção da biodiversidade principalmente da Floresta Amazônica.

A Reserva Estadual Extrativista Rio Preto Jacundá foi criada pelo Decreto Estadual nº 7.336, de 17 de janeiro de 1996, sendo declarada de interesse ecológico e social, em benefício e uso de sua população autóctone, isto é, os povos da floresta, que estão representados na Resex por famílias de extrativistas, como espaço territorial destinado à exploração autossustentável e conservação dos recursos naturais renováveis. Hoje, após algumas modificações de ordem legal, possui área demarcada de 95.300 hectares, estando localizada no município de Machadinho D’Oeste, próxima à fronteira interestadual de Rondônia com o Amazonas.

No ano de 2001, foi fundada a Associação dos moradores da Resex Rio Preto Jacundá (Asmorex), com o objetivo de proporcionar representatividade jurídica à população extrativista da Resex, além de viabilizar o acesso as políticas públicas e projetos que pudessem beneficiar os moradores locais. Mesmo diante de tais possibilidades, enfrentamos muitas dificuldades para desenvolver nossas atividades, em função da ausência de conhecimento e capacitação de nosso povo na condução da associação.

Em setembro de 2011, participando de um seminário na cidade de Porto Velho, realizado pelo CES Rioterra, vislumbramos a oportunidade de implantar o projeto REDD+ na Resex, através da Biofílica, o que hoje é uma realidade. Foram mais de cinco anos de uma batalha conjunta entre Asmorex, Comunidades da Resex, Biofílica e CES Rioterra na elaboração minuciosa de um projeto promissor, que visualizamos atualmente com um olhar otimista, por meio dos seus resultados positivos.

A realidade atual da Resex, apesar de um horizonte de possibilidades através do projeto REDD+, é também desafiadora, uma vez que estamos diante de uma forte pressão por parte de invasores que tentam a qualquer custo se apossarem da área, causando temor aos habitantes de origem da Resex. De qualquer forma, apesar das autoridades de fiscalização do Estado estarem cumprindo o seu papel, este trabalho têm sido insuficiente nos últimos anos, refletindo em um aumento considerável no desmatamento recente.

Outro desafio é o resgate e manutenção da identidade cultural do nosso povo, devido ao contexto atual inovador, as relações interpessoais com populações migratórias do entorno, e até mesmo dos centros urbanos acessíveis, que tem causado forte influência nos costumes e tradições das nossas comunidades extrativistas.

Vejo o projeto de REDD+ da Resex Rio Preto Jacundá como uma oportunidade para fomentar a Resex em sua amplitude social, cultural, ecológica e econômica, além de desenvolver uma estratégia de proteção do território em parceria com o Estado de Rondônia. Acredito muito em Deus e no projeto de REDD+ Resex Rio Preto Jacundá, que nossos objetivos serão alcançados e ao mesmo tempo seremos gratos e orgulhosos do nosso trabalho e dos parceiros, que depositaram em nós sua confiança na construção de uma árdua, mas louvável estratégia de bem comum, a conciliação Homem e Natureza.

José Pinheiro Borges

Comunitário extrativista residente na RESEX Rio Preto Jacundá

Resex Rio Preto Jacundá REDD+ Project Report of a local extractive community member

Protected areas have emerged as a solution to several environmental problems. Its origins are in the communities of rubber tappers who, during the 70s and 80s, assumed the role of forest guardians in the Amazon. We believe that the objective of the creation of a Protected Area was to guarantee the survival of traditional populations in their way of life based on collecting natural resources, besides occupying these areas to guarantee the protection of the Amazon Forest biodiversity.

The Rio Preto Jacundá Protected Area was created by the State Decree  7,336, dated January 17th, 1996, and declared the region as of ecological and social interest for the benefit and use of its native population, that is, the forest peoples, in the case, rubber tappers. It is a territorial space destined to self-sustaining exploitation and conservation of renewable natural resources. Today, after some legal modifications, it has a determined an area of 95,300 hectares, being located in the municipality of Machadinho D’Oeste, near the interstate border of Rondônia and Amazonas.

In 2001, the Resex Rio Preto Jacundá Residents’ Association (Asmorex) was founded, with the objective of providing legal representation to the Protected Area’s extractive population, in addition to enable engagement with public policies and projects that could benefit local residents. Even in the face of such possibilities, we face many difficulties in developing our activities, due to the lack of knowledge and qualification of our people in conducting the Association.

In September 2011, participating in a seminar in the city of Porto Velho, held by CES Rioterra, we envisioned the opportunity to implement the REDD+ project  with Biofílica, which is now a reality. It was more than five years of a joint battle between Asmorex, communities, Biofílica and CES Rioterra in the elaboration of a promising project, which we are currently looking at with optimism, through its positive results.

The current reality, despite a horizon of possibilities through the REDD+ Project, is also challenging, since we are facing strong pressure from invaders who try at any cost to get hold of the area, causing fear to the inhabitants of origin of the Area. In any case, although State enforcement authorities are fulfilling their role, this work has been insufficient in recent years, reflecting a considerable increase in recent deforestation.

Another challenge is to rescue and maintain the cultural identity of our people, due to the current innovative context, interpersonal relationships with surrounding migrant populations, and even accessible urban centers, which has strongly influenced the customs and traditions of our extractive communities.

I see the REDD+ project of Resex Rio Preto Jacundá as an opportunity to foster the Area in its social, cultural, ecological and economic scope, in addition to being a territorial protection strategy in partnership with the State of Rondônia. I believe in God and in the REDD+ project of Rio Preto Jacundá, that our goals will be achieved and at the same time we will be grateful and proud of our work and our partners, who have placed in us their confidence in the construction of an arduous but praiseworthy common good strategy, the reconciliation of Man and Nature.

José Pinheiro Borges

Community extractive resident at Resex Rio Preto Jacundá