Dia Mundial do Solo: Celebrando o Suporte da Vida

por Marcos Siqueira-Neto, Especialista em Projetos de Carbono na Agropecuária

Hoje (05/12) comemoramos o Dia Mundial do Solo, nessa data devemos lembrar a profunda importância desse recurso para a vida no planeta. O solo é fundamental para todas as formas de vida, é o verdadeiro alicerce do planeta. Ele sustenta vastas florestas ou pequenas hortas urbanas, em diferentes ambientes e paisagens é essencial para o equilíbrio dos ecossistemas e o bem-estar humano.

 

 

Solo: mais do que uma camada superficial

Embora frequentemente usados como sinônimos, “terra” e “solo” possuem significados distintos: Conforme a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)[1], a terra representa o território, a massa sólida ou a porção física que compõe a crosta do planeta, com suas rochas, minerais e outras camadas que nos sustentam fisicamente.

O solo é muito mais do que uma superfície, é uma camada ativa, resultado de processos naturais de transformação das rochas, denominado intemperismo. Esse processo é influenciado pelo clima, relevo, material de origem (elementos e minerais presentes nas rochas), atividade de organismos e o tempo. A complexa combinação entre minerais, matéria orgânica, ar, água e organismos vivos confere características que diferencia os tipos de solo. O solo ainda pode assumir diversos significados, dependendo da perspectiva:

  • Para o Geólogo, o solo é o produto de milhões de anos de processos geológicos de decomposição e sedimentação. Ele vê o solo como a camada resultante da interação física, químicas e biológicas entre rochas, clima e organismos, que conecta a crosta terrestre com a vida na superfície[2].
  • Para o Agrônomo, o solo é uma ferramenta de trabalho, um recurso vivo e produtivo, onde sementes se tornam plantações, e colheitas geram alimentos e riqueza. É um meio que fornece nutrientes, água e suporte para o cultivo das plantas, e que deve ser conservado para garantir a sustentabilidade da produção agrícola[3].
  • Para o Ecólogo, o solo é muito mais do que uma camada de material mineral e orgânico, é um ecossistema em si. Uma matriz que abriga uma enorme biodiversidade, e um regulador de processos ecológicos que recicla nutrientes, armazena água e filtra contaminantes, além de contribuir para a regulação do clima, especialmente, por meio do sequestro de carbono[4].
  • E para o Artista, o solo é um tecido sagrado, útero da Terra, um lugar de mistério e fecundidade. É o guardião das histórias, onde sementes florescem, dando origem ao próprio homem, um símbolo de crescimento, pertencimento e renascimento.

 


As Classes de Solos no Brasil

O Brasil possui uma vasta extensão territorial e possui uma grande diversidade de solo[5]. Entre as principais Classes de Solo podemos destacar:

  • Latossolos cobrem cerca de 39% do território, com extensas áreas na Amazônia e no Cerrado. São solos profundos, bem drenados, em sua grande maioria com baixa fertilidade natural, e ocorrem em áreas de pequena declividade, em relevo plano a suave ondulado. Apresentam elevada aptidão para o uso agropecuário, são favoráveis a mecanização, e podem ser altamente produtivos com manejo adequado.
  • Argissolos ocupam cerca de 24% do território e são comuns nas regiões Sul e Sudeste. Esses solos apresentam textura argilosa em subsuperfície e textura média em superfície. Quando esse gradiente textural é acentuado, esse solo torna-se mais suscetível à erosão, exigindo práticas de manejo conservacionistas.
  • Neossolos que estão em 13% do território, são solos pouco desenvolvidos, com uma camada superficial fina que é condicionada por seu conteúdo de matéria orgânica. São solos considerados de baixa aptidão agrícola, pois apresentam baixa retenção de água e nutrientes. Práticas de manejo que mantenham ou aumentem os teores de matéria orgânica podem reduzir esse problema.

Outras classes com menor ocorrência ainda incluem: Plintossolos[6] (6% do território brasileiro); Gleissolos[7] (4%); Luvissolos[8] (3%); Cambissolos[9] (2,5%); Espodossolos[10] (2%); Planossolos[11] (2%); Vertissolos[12] (2%); Nitossolos[13] (1,5%); Chernossolos[14] (0,5%); e Organossolos[15] (ocorrência dispersa).

Cada classe de solo apresenta características que influencia seu uso e manejo. No Brasil, o zoneamento e a aptidão do uso do solo possuem legislação própria, que visa alinhar o desenvolvimento urbano e rural com a preservação ambiental e a sustentabilidade, de forma a assegurar uso consciente dos serviços ecossistêmicos e a capacidade de suporte de cada tipo de solo.

 

Mapa de solos do Brasil
Fonte: https://www.embrapa.br/tema-solos-brasileiros/solos-do-brasil


 

Mapa Potencial de uso agrícola
Fonte: https://www.aen.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2022-12/0512mapa.pdf

 


Os Serviços Ecossistêmicos e o Uso do Solo

O solo é um dos principais provedores de serviços ecossistêmicos, fundamentais para a saúde e o bem-estar humano. Entre tantos, podemos destacar o solo como o meio para o estabelecimento das construções e as culturas agrícolas; o ciclo biogeoquímico de nutrientes e carbono, a produção de alimentos, materiais e energia; fonte de minerais; purificação e regulação do ciclo da água; regulação climática; habitat de uma vasta diversidade de organismos; e ainda, seu valor como paisagem, recreação, cultural e espiritual. Diante de tantos serviços ecossistêmicos, é correto afirmar que o solo é um valioso recurso econômico.

A agropecuária é um setor de grande importância econômica, gerando empregos, renda e exportações. Assim, o uso adequado do solo por meio de práticas de manejo sustentáveis garante uma boa saúde do solo, e a sua conservação gera valor econômico. Por outro lado, o uso intensivo sem cuidados causa a degradação dos atributos físicos, químicos e biológicos, levando ao esgotamento do solo, consequentemente, a perda da capacidade produtiva. Dessa forma, é necessário encontrar um equilíbrio para que a atividade produtiva contribua para a economia sem comprometer a saúde do solo.

Além disso, o solo armazena carbono na forma de matéria orgânica, ajudando a equilibrar as emissões de carbono da atmosfera. Quando o solo é bem manejado, sua matéria orgânica é preservada, e ajuda a mitigar as mudanças climáticas. No entanto, práticas agrícolas inadequadas e o desmatamento podem liberar o carbono estocado de volta para a atmosfera, contribuindo para o aquecimento global.

 

Serviços Ecossistêmicos do solo.
Fonte: https://openknowledge.fao.org/server/api/core/bitstreams/eaecf793-d0cb-4ac4-a4fc-b98dbe0065f0/content

 


O Manejo Adequado do Solo é uma Solução Baseada na Natureza

O solo é o maior reservatório terrestre de carbono, armazenando três vezes mais carbono que a atmosfera e a vegetação juntas[16]. Dessa forma, desempenha um papel central na mitigação das mudanças climáticas e seu adequado manejo é considerado uma potente Solução Baseada na Natureza (SBN).

O uso consciente desse recurso como uma SBN está associado a adoção práticas de manejo que visam melhorar a saúde do solo[17], com aumento da quantidade de matéria orgânica, garantindo a sustentabilidade da produção agrícola. A adoção de práticas de manejo conservacionistas que reduzem a movimentação da camada superficial e incluem a cobertura permanente do solo, maximizam o sequestro de carbono e aumentando sua resiliência[18].

Nesse sentido, recomendamos técnicas de manejo como plantio direto, rotação de culturas, adubação orgânica/verde, adoção de sistemas integrados (e.g., lavoura-pecuária-floresta) e/ou agroflorestais que ajudam a enriquecer o solo, promovem o sequestro do carbono, reduzindo o CO₂ atmosférico, ao mesmo tempo, que favorecem a produção agrícola[19]. Além disso, a restauração produtiva dos solos degradados, principalmente em pastagens, também é uma estratégia poderosa para capturar carbono, enquanto restaura a biodiversidade e a produtividade[20], e com efeito indireto de “salva floresta”.

Entre os desafios vemos que a falta de metodologias padronizadas e o elevado custo para medir e monitorar o carbono no solo dificultam a implementação de iniciativas como créditos de carbono agrícolas. Ainda assim, novas tecnologias para análise de solo estão sendo desenvolvidas para facilitar esse processo. Acreditamos que uma estrutura regulatória e incentivos adequados, como créditos de carbono e pagamentos por serviços ambientais, é possível impulsionar a adesão dos produtores rurais em promover o solo como aliado estratégico na mitigação climática, além de favorecer a segurança alimentar e econômica[21].

 

Agregado de solo cheio me material orgânico
Fonte: https://brasil.mapbiomas.org/wp-content/uploads/sites/4/2023/08/MapBiomas_Solo_JUNHO_2023_21.06_OK_Alta__1_.pdf

 


Considerações Finais

A conservação do solo é essencial para a segurança alimentar e para a manutenção dos ecossistemas. O Brasil, com sua vasta extensão e diversidade de solos, possui um papel estratégico na promoção de práticas agrícolas sustentáveis, aproveitando também o mercado de créditos de carbono e pagamentos por serviços ambientais para compensar os custos de conservação.

A Ambipar Environment desenvolve projetos NBS que preconizam o uso consciente desse valioso recurso através da adoção práticas de manejo sustentáveis que visam melhoria da saúde do solo, e proporcionam a geração de créditos de carbono. Para isso utilizamos as melhores metodologias e padrões de certificação disponíveis no mercado, que asseguram a geração de impactos positivos ao clima, à sociedade e ao meio ambiente. Assim, neste Dia Mundial do Solo vale a reflexão sobre o uso e a conservação dos nossos solos, e convidamos todos a valorizar e proteger este recurso vital para o nosso futuro e o do planeta.

 

Mapa impulsiona solo mais sustentável com programas para o manejo da terra
Fonte: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/mapa-impulsiona-solo-mais-sustentavel-com-programas-para-o-manejo-da-terra

 

 


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Nosso time conta com colaboradores técnicos e institucionais com grande experiência sobre o tema e permanecemos à inteira disposição para esclarecimentos adicionais.

 


 

[1] FAO (2021). The State of the World’s Land and Water Resources for Food and Agriculture – Systems at breaking point. Synthesis report 2021. Rome. DOI: 10.4060/cb7654en.
[2] Birkeland, P.W. (1999). Soils and Geomorphology. New York: Oxford University Press. p. 430.
[3] Brady, N.C., & Weil, R.R. (2010). Elements of the Nature and Properties of Soils. Pearson. 614p.
[4] Wall, D. H., et al. [eds.] (2012). Soil Ecology and Ecosystem Services. New York: Oxford University Press, p. 424. DOI:10.1093/acprof:oso/9780199575923.001.0001.
[5] Plintossolos encontram-se em relevo plano e suave ondulado, em áreas deprimidas, planícies aluviais, situações que impliquem no escoamento lento da água do solo. Caracterizados por apresentar drenagem imperfeita e ciclos de redução e oxidação do ferro com a formação de plintita e/ou petroplintita (concreção). São solo pobres em matéria orgânica, frequentemente, ácidos e com baixa fertilidade natural.
[6] Gleissolos são encontrados em áreas que apresentam restrição de drenagem, como nas proximidades dos cursos d’água, várzeas e baixadas. São formados por material argiloso ou muito argiloso em ambiente saturado por água, mal drenados (hidromórficos).
[7] Luvissolos são encontradas no Nordeste distribuídos na zona semiárida. São solos rasos de alta fertilidade natural, e caracterizados pelo aumento significativo dos teores de argila nos horizontes subsuperficiais.
[8] Cambissolos apresentam ampla distribuição em todos os biomas. São solos considerados moderadamente desenvolvidos, pouco profundos e com ampla variação em sua composição química e granulométrica.
[9] Espodossolos são típicos de zonas costeiras, são arenosos, com depósitos em profundidade de matéria orgânica, muito ácidos e pobres em nutrientes.
[10] Planossolos possuem uma camada superficial bem desenvolvida e uma camada subsuperficial compactada e mal drenada.
[11] Vertissolos são predominantes no semiárido nordestino. São solo argilosos que apresentam grande capacidade de retenção de água, mas suscetíveis a rachaduras em períodos secos.
[12] Nitossolos são solos profundos que apresentam textura argilosa ou muito argilosa, bem drenados, moderadamente ácidos e de fertilidade natural variável.
[13] Chernossolos são muito férteis, caracterizados pela camada superficial espessa e escura com elevados teores de matéria orgânica.
[14] Organossolos são formados por elevados teores de matéria orgânica, oriunda da deposição e acúmulo de resíduos vegetais, com ou sem mistura de materiais minerais. Ocorrem de forma muito dispersa, não constituindo áreas representativas no Brasil.
[15] EMBRAPA. (2018). Sistema Brasileiro de Classificação de Solos − Brasília, DF: Embrapa, 2018. 356 p.
[16] IPCC (2019). Climate Change and Land: An IPCC Special Report on Climate Change, Desertification, Land Degradation, Sustainable Land Management, Food Security, and Greenhouse Gas Fluxes in Terrestrial Ecosystems. Intergovernmental Panel on Climate Change.
[17] Canisares, L.P., et al. (2024). Enhancing Soil Health in Brazilian Agroecosystems: Indicators and Management Practices. In: Ogwu, M.C., et al. [eds] Sustainable Soil Systems in Global South. Singapore: Springer, p. 768. DOI: 10.1007/978-981-97-5276-8_23.
[18] Siqueira-Neto M., et al. (2020). Impacts of Land Use and Cropland Management on Soil Organic Matter and Greenhouse Gas Emissions in the Brazilian Cerrado. Eur. J. Soil Sci. p. 1–16. DOI:10.1111/ejss.13059.
[19] Lal, R. (2004). Soil Carbon Sequestration Impacts on Global Climate Change and Food Security. Science, 304(5677), 1623–1627. DOI: 10.1126/science.1097396.
[20] UNEP (2019). The Global Environmental Outlook: GEO-6. Healthy Planet, Healthy People. Nairobi. DOI: 10.1017/9781108627146.